27.3.09

ele vai voltar

eu teria quer ir primeiro, ficar cara a cara com o monte inquieto do meu corpo, por dias e dias, teria q esconder cada murmurio de dor-fadiga-desconserto de mim mesma e mesmo assim acabar lá, em um cérebro que não só se contenta em dizer que me odeia, como me odeia de fato, e mentaliza, e diabolicamente me levanta de novo, como se dissesse: agora você pode ir, idiota. mas não termina de uma vez.

11.3.09

'o povo ajuda, não pede ajuda, são formigas que trabalham muito.'

16.2.09

morte lenta

gotas a zero grau se aproximam da púrpura desapropriação do ser
sólida imagem que se auto-flagelando vira memória
pontas de lança, foguetes
desbravaram o que antes era só da água que me aflige

2.2.09

observar gritos, calos
sinal de bicho nas folhas
energia que esgota a água


observar os gemidos, gênios, filhos
o sinal verde fechado
o sol que denuncia as cores


absorver o estômago
delator de todas as coisas
sincronizar a maldade
com a descarga bueiro a fora


gritar à ferida aberta
jogar fora a verdura podre
desenergizar o vento, veludo


tampar o sexo
matar o filho
queimar os olhos



vomitar o cérebro
devotada crueldade
o jardim de todas as coisas

20.1.09

eu também sou teoria, sem prática.

9.1.09

férias

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e a preguiça é um rio lameado.

27.12.08

à distância potencializada toda merda vira fossa.

14.12.08

teletransporte

dormir sonhando e acordar te abraçando.

8.12.08

as mãos das minhas linhas em ficção cigana, nunca mudam a dança do esmo.

25.11.08

a inércia muda
não muda

12.11.08

nobody is home

21.10.08

amnésia branda, flores de vidro, sangue
flerta o vazio na queda

depois despoeiriza as frestas
puro.

8.10.08

de que lado você vai sambar?¹

desfragmento todas as voltas que hei de dar e vou para um campo vazio dessa espessura gélida que me tem. flocos de o desapego caem do que sei dessa camada voluptuosa que o envolve: anti-eu. pouco a pouco a nuvem que os derrama se desfaz e a névoa da dissipação nos envolve: mudos.

domingos devem ser esquecidos, com nuvem ou sem nuvem.


¹chico science & nação zumbi - lado do samba

8.9.08

sunday aways comes too late¹

horas alineares
infinitas horas

a cada domingo
que acaba


¹the cure - friday i'm in love

28.8.08

a trilha verde-sangue que o levara ao manancial, a expressão vil da dicotomia ser ou não ser do súber morto.. era insustentável a busca que o faria percorrer seus vales mudos, passivos de mudança e compreensão.

6.7.08

um pouco de dostoievski

- mas não estou mentindo, tudo isso é verdade. infelizmente, a verdade quase nunca é espirituosa. vejo que esperas de mim algo de grande, talvez de belo. é lamentável, porque só dou o que posso...¹



¹os irmãos karamazov

4.7.08

keep your dreams, don't sell your soul¹

a segurança do cético é saber que ele pode acreditar no que quiser, sem crer de fato, em nada. ele sabe que a ilusão da ilusão mantêm a vida acesa, mantêm a chama onde ela deve estar.

o ceticismo não corrompe o crédulo, não põe a perder ninguém que acredite no invisível, no inacreditável.


¹primal scream - keep your dreams

27.6.08

lava-
da alma

lava-
do coração

em um vulcão (in)ativo

20.6.08

kawa cauim, um pouco de paulo leminski

hai
eis que me nasce completo
e, ao morrer, morre germe,
o desejo, analfabeto,
de saber como reger-me,
ah, saber como me ajeito
para que eu seja quem fui,
eis o que me nasce perfeito
e, ao crescer, diminui.

2.6.08

he, again..

como se livrar dele, quando, se ele não está no seu coração, está na sua mente?

25.5.08

em nome do pai

é o sangue frio da fome que te impede de comer deus.
pois da vitalidade do que se diz à inconstância do que se pensa
tudo existe na qualidade de palavra,
salada cinza de realidade verde, escuro.

16.5.08

um poema de ligação

sou e estou andando
sou, estou e continuo
andando

pois se,
tornar-se a ficar
permaneceria
parecida.

9.5.08

sobre a hostilidade II

eu não mudei
ele não mudou

o mundo, conosco, muito menos.

20.4.08

sobre a hostilidade

sufocar um domingo é cruel
mas não há ninguém que também não o seja
sufocante e mau
domingos não são as pessoas que odiamos
são as pessoas que queremos pra nós todos os dias

6.4.08

so slowly¹

jogo palavras pra não dizer
o que não disse

nem vou lembrar:
entre nós
nós não existe



¹madonna - hung up

30.3.08

os sonhos nos quais estou morrendo são os melhores que eu já tive.
eu acho difícil te dizer porque acho difícil de entender.¹


¹gary jules - mad world (tradução livre)

22.3.08




ele olhou pra mim e disse:

- Espera minha garota chegar!

mas não deu tempo.., foi mal, seu pardal!

16.3.08

colérico

desligar as horas
sem perdê-las

desligar-se
sem detê-la


vontades embebedam-na. fugir de si em sono obscuro levado por energias frenéticas vindasdenãoseionde. por onde vai essa freqüência obstinada em leva-la? não há motivos para calar-se: ela cala (ela não entende uma só palavra que eu diga nunca entendeu e eu não entendo o porque de subir tantas escadas para não entender o que eu digo e nem vou entender mas ela insiste ela sempre insiste em não entender o que eu digo). embora não quisesse minhas pernas sempre querem ir até a saída de emergência. meu instinto. meu faro de animal esfomeado. rastro que é levado: minhas saídas de emergência que as mãos insistem abrir. as janelas que meus olhos gozam ver. não há nada que eu tenha visto que ela não estivesse lá. não há nada que eu tenha andado que não a tenha sentido. no medo tudo soa disperso, ao acordar desse lado indisposto, tudo é disperso e, imutável, a toda tentativa.

13.3.08

maringá tem 10 pessoas

porque o ciclo inevitável de pessoas em nossas vidinhas é um tanto assustador.


(informação inutil: tem uma teoria chamada Teoria dos Seis Graus que é uma idéia adaptada de um senhor ai.., esse senhor com uma conta deveras misteriosa disse que com seu invento todas as pessoas do mundo estavam ligadas com um angulo de 5,789 com todas as outras pessoas do mundo (não lembro dos números depois da vírgula com certeza, mas isso não faz diferença), enfim, esse senhor é ninguém menos que Alexander Graham Bell que em uma bela tarde em meados de 1873 queria enviar notas musicais através da eletricidade e com sua brincadeira inventou o telégrafo.)

9.3.08

sem laços, só traços
risco meu nesse teu céu azul escuro
rastro de fumaça
do meu cigarro apagado

e você insiste em tragar

25.2.08

lembro dela.

diálogos são iscas pescando qualquer coisa que seja e pesca a mim. abstraio tua voz em forma de saliva enquanto sonho com uma guria.

não era você, nem era real.

11.2.08

minha forma birrenta de ver as coisas

talvez ele nunca mude. talvez case, tenha filhos e uma banda de blues, mas convém lembrar que isso não o impõe mudança alguma.

no fundo todos sabemos disso.

17.12.07

minha pata de elefante quando sangra, mata todas as formigas da sala. também quando choro ou caminho, afogo e piso todos esses pobres insetos, que insistem nessa díspare convivência.

18.10.07

prato de flores - nação zumbi

mais perto da essência o sentido respira
mas nem sempre o ar mais puro se tem
mais perto da essência o sentido respira
consumido no perfume que vem

eu vou lhe dar um prato de flores
e no seu ventre vou fazer o meu jardim
que vai florir

quando os espinhos lançarem as dores
do cheiro forte do jardim que não tem fim
que não tem fim
o seu umbigo ainda em flor
vai mexer com o tempo vai matar a dor denovo

os espinhos são pra quem pensa em enganar a flor
a beleza rédia prosa da dor

10.10.07

insustentável.

19.9.07

sentimentos flácidos incham meu cérebro e inconstantes faíscas de não-silêncio como luzes de estrelas mortas me alcançam. não se tem por dentro a rotina dessas visitas antes que se torne constante. essa estupidez mediocre nos olhos, nada tem a ver com as tentativas falhas anteriores, não obstante, fazem parte do mesmo desmembramento.

5.9.07

aceitar o corpoesangue
do seu corpoesangue
afligindo o cristo coagido

e como um bicho
pendura-lo de troféu
na parede da sala

e como um crente
rezar doses diárias
de hipocrisia austera

acredite

27.8.07

porque não

ela não entende uma só palavra que eu diga. nunca entendeu. e eu não entendo o porque de subir tantas escadas pra não entender nunca o que eu digo. nem vou entender.

24.7.07

I
na velocidade da luz
parada, e presa
dentro da casa.


II
joguei fora a neve velha
e o pinheiro de plástico.
esse ano não vai ter natal.

a neve não cabia mais na geladeira.
o pinheiro não era meu,
e dava saudades.
fiquei só com o feriado.

quando a tv anunciar monto o presépio,
compro outra arvore, ou talvez, melhor,
ganho uma, de um desses feriados
que sempre voltam.

17.7.07

(..) não há esperança para aqueles que vivem na mentira. não existe espetáculo mais vil do que um povo embriagado em sua própria inércia, como o doente desenganado que se deleita com suas chagas. por outro lado, a história nos ensina que o esforço da redenção da pátria não se inicia sem uma revisão radical dos valores dúbios. o pior otimismo é o que confia no tempo sem por uma semente no sulco, sem contar com o grão capaz de germinação e cultivo. nada pode derivar-se do nada. a civilização não é fruto do milagre, mas de gênio. toda sociedade que esmaga sua classe culta e se deixa guiar pela inconsciência, pela desonestidade, é uma sociedade condenada.¹ (..)

¹josé vasconcelos, mexicano, autor do livro breve história do méxico

22.6.07

mersault¹

o verde montanhoso das pedras submarinas mostra a verdade muda, intrasponível. entre olhar e ver. os mortos do fundo do mar entendem a singela dança de bolhinhas e riem, contemplando a inexistência de seus significados.


* * *


a combinação água e sal é deveras misteriosa e perturbadora, tenho dito.



¹personagem do livro o estrangeiro de albert camus

11.6.07

não, que seja. ela sorriu seu mar em mim onde o sol sempre volta no que eu não digo, nunca ultrapassando meus limites. pairo sob a espuma pensando no 'quê'.

10.6.07

é só um relevo de sorrisos pérfidos, só. ela nunca disse que dói a vontade, ela nunca disse que doeria mais ver a superação, ela nunca disse o fim.

28.5.07

a vontade é saber que não há mal algum em purificar o silêncio com o próprio silêncio. o rasgo quente que o mel faz por dentro, com sua película protetora de bondade não o impede de ser doce e ser doce não protege seu corpo inerme dos insetos. atrai.

22.5.07

só as palavras são mentirosas, nós não temos culpa alguma se elas saem da nossa boca. atos. atos são mentirosos, nós não temos culpa alguma se nossos pés saem por ai, descobrindo caminhos. se meus braços te abraçam, se minha boca pronuncia um beijo. eu não tenho culpa alguma desse gosto do meu gosto, que fala pelas narinas e respira pelo coração. e eu não tenho voz nenhuma quando meu estômago pensa que o cérebro tem razão, ou que quem mente sou eu, o tempo todo.

14.5.07

supõe-se que cada ato nos eleva, esvaziando-nos,
isso faz do estado de solidão uma constante.
o que proporciona a queda é o próprio desejo do vazio,
defender-se de um desejo criado pra defender-se.

o caminho é contrário.

9.5.07

discurso (in)direto

de que te adianta ser inteligente e sacado, se sua chatice e inconveniência são sempre maiores?

* * *


(..) seu canto era tão natural que nunca se preocuparam em provar que sabiam cantar (..)¹



¹mundo livre s/a - muito obrigado

4.5.07

voando por cima das auréolas e dos raios.
tudo quieto nos canais do agora.

2.5.07

salve marcos! salve! salve!¹

o que te faz perder o tesão nas coisas e o ódio gratuito entram juntos nos jogos. a diferença é que às vezes o tesão se transforma em ódio real e a presença de qualquer grão de areia que se infiltrasse no corpo moribundo do adversário o faria implodir e sugar junto dele todo o resto ao redor. seu suor e sua bílis na mesma febre inconstante, volúvel e prestes a ser modulada com asco. a pútrida fidelidade do seu corpo contra tudo isso também fede. sua enorme casca de indiferença. que se perca. que não volte. que não perdoe. vai assim, se acabando por si só.


¹mundo livre s/a - desafiando roma

1.5.07

ao llanero

em forma de neon
ultrapasso o sentido das cores
distanciando dos teus olhos
as minúcias indecifráveis de um momento
vejo com gosto minha própria distância
e comemoro com fugaz melancolia
que vai, que volta, que fica.

em mim você é só um livro
impossível de ir ao fim.