17.12.07

minha pata de elefante quando sangra, mata todas as formigas da sala. também quando choro ou caminho, afogo e piso todos esses pobres insetos, que insistem nessa díspare convivência.

18.10.07

prato de flores - nação zumbi

mais perto da essência o sentido respira
mas nem sempre o ar mais puro se tem
mais perto da essência o sentido respira
consumido no perfume que vem

eu vou lhe dar um prato de flores
e no seu ventre vou fazer o meu jardim
que vai florir

quando os espinhos lançarem as dores
do cheiro forte do jardim que não tem fim
que não tem fim
o seu umbigo ainda em flor
vai mexer com o tempo vai matar a dor denovo

os espinhos são pra quem pensa em enganar a flor
a beleza rédia prosa da dor

10.10.07

insustentável.

19.9.07

sentimentos flácidos incham meu cérebro e inconstantes faíscas de não-silêncio como luzes de estrelas mortas me alcançam. não se tem por dentro a rotina dessas visitas antes que se torne constante. essa estupidez mediocre nos olhos, nada tem a ver com as tentativas falhas anteriores, não obstante, fazem parte do mesmo desmembramento.

5.9.07

aceitar o corpoesangue
do seu corpoesangue
afligindo o cristo coagido

e como um bicho
pendura-lo de troféu
na parede da sala

e como um crente
rezar doses diárias
de hipocrisia austera

acredite

27.8.07

porque não

ela não entende uma só palavra que eu diga. nunca entendeu. e eu não entendo o porque de subir tantas escadas pra não entender nunca o que eu digo. nem vou entender.

24.7.07

I
na velocidade da luz
parada, e presa
dentro da casa.


II
joguei fora a neve velha
e o pinheiro de plástico.
esse ano não vai ter natal.

a neve não cabia mais na geladeira.
o pinheiro não era meu,
e dava saudades.
fiquei só com o feriado.

quando a tv anunciar monto o presépio,
compro outra arvore, ou talvez, melhor,
ganho uma, de um desses feriados
que sempre voltam.

17.7.07

(..) não há esperança para aqueles que vivem na mentira. não existe espetáculo mais vil do que um povo embriagado em sua própria inércia, como o doente desenganado que se deleita com suas chagas. por outro lado, a história nos ensina que o esforço da redenção da pátria não se inicia sem uma revisão radical dos valores dúbios. o pior otimismo é o que confia no tempo sem por uma semente no sulco, sem contar com o grão capaz de germinação e cultivo. nada pode derivar-se do nada. a civilização não é fruto do milagre, mas de gênio. toda sociedade que esmaga sua classe culta e se deixa guiar pela inconsciência, pela desonestidade, é uma sociedade condenada.¹ (..)

¹josé vasconcelos, mexicano, autor do livro breve história do méxico

22.6.07

mersault¹

o verde montanhoso das pedras submarinas mostra a verdade muda, intrasponível. entre olhar e ver. os mortos do fundo do mar entendem a singela dança de bolhinhas e riem, contemplando a inexistência de seus significados.


* * *


a combinação água e sal é deveras misteriosa e perturbadora, tenho dito.



¹personagem do livro o estrangeiro de albert camus

11.6.07

não, que seja. ela sorriu seu mar em mim onde o sol sempre volta no que eu não digo, nunca ultrapassando meus limites. pairo sob a espuma pensando no 'quê'.

10.6.07

é só um relevo de sorrisos pérfidos, só. ela nunca disse que dói a vontade, ela nunca disse que doeria mais ver a superação, ela nunca disse o fim.

28.5.07

a vontade é saber que não há mal algum em purificar o silêncio com o próprio silêncio. o rasgo quente que o mel faz por dentro, com sua película protetora de bondade não o impede de ser doce e ser doce não protege seu corpo inerme dos insetos. atrai.

22.5.07

só as palavras são mentirosas, nós não temos culpa alguma se elas saem da nossa boca. atos. atos são mentirosos, nós não temos culpa alguma se nossos pés saem por ai, descobrindo caminhos. se meus braços te abraçam, se minha boca pronuncia um beijo. eu não tenho culpa alguma desse gosto do meu gosto, que fala pelas narinas e respira pelo coração. e eu não tenho voz nenhuma quando meu estômago pensa que o cérebro tem razão, ou que quem mente sou eu, o tempo todo.

14.5.07

supõe-se que cada ato nos eleva, esvaziando-nos,
isso faz do estado de solidão uma constante.
o que proporciona a queda é o próprio desejo do vazio,
defender-se de um desejo criado pra defender-se.

o caminho é contrário.

9.5.07

discurso (in)direto

de que te adianta ser inteligente e sacado, se sua chatice e inconveniência são sempre maiores?

* * *


(..) seu canto era tão natural que nunca se preocuparam em provar que sabiam cantar (..)¹



¹mundo livre s/a - muito obrigado

4.5.07

voando por cima das auréolas e dos raios.
tudo quieto nos canais do agora.

2.5.07

salve marcos! salve! salve!¹

o que te faz perder o tesão nas coisas e o ódio gratuito entram juntos nos jogos. a diferença é que às vezes o tesão se transforma em ódio real e a presença de qualquer grão de areia que se infiltrasse no corpo moribundo do adversário o faria implodir e sugar junto dele todo o resto ao redor. seu suor e sua bílis na mesma febre inconstante, volúvel e prestes a ser modulada com asco. a pútrida fidelidade do seu corpo contra tudo isso também fede. sua enorme casca de indiferença. que se perca. que não volte. que não perdoe. vai assim, se acabando por si só.


¹mundo livre s/a - desafiando roma

1.5.07

ao llanero

em forma de neon
ultrapasso o sentido das cores
distanciando dos teus olhos
as minúcias indecifráveis de um momento
vejo com gosto minha própria distância
e comemoro com fugaz melancolia
que vai, que volta, que fica.

em mim você é só um livro
impossível de ir ao fim.

23.4.07

trechos sem traços

esses jardins luxuriosos pedem a máxima em mim e destroem-se em exames minuciosos criando falanges de pensamentos acarretadas por todos os sentidos e o meu tato se desdobra pra descobrir todo o corpo que não me pertence. essa fumaça que nos aflige e nos ultrapassa na medida exata desdobra-se e transborda ao redor do que era só o que era e agora é tudo o que sinto numa viagem transcendental em torno das ameaças cabíveis que só no sonho se mostra.

30.3.07

ishtar¹

uma deusa que fez em mim,
um pedaço de mim.
sem traço qualquer.


¹deusa babilônica da fertilidade

25.3.07

risoflora¹

faço listras pra escrever
todas as palavras que o amor equivale
coloco uma em cada uma
que divido rasgando em pedacinhos,
depois jogo no chão do quarto
com esperança de que vá crescer.


¹chico science & nação zumbi

21.3.07

so fake it¹





¹smashing pumpkins - stumbleine

20.3.07

this is not the music¹

pulverizar os pedaços de velocidade,
na velocidade do teu sorriso.

só no que vejo, raios sem direção.

o que eu sinto é alarme sem alerta,
todo o tempo.


¹mundo livre s/a - a música q os loucos ouvem

19.3.07

não apareça sobre meus mares..

o que eu tenho são pedaços, retalhos jogados no chão sujo. ela há de chegar, purificar o teor da casa, dos olhos e nos dizer o que fazer. o dia passa na orla da nostalgia. a noite é um vulcão de pensamentos adulterados pelo sono. a rodovia é do meu lado, mas a velocidade passa por mim na curva, sobre mim. com o seu vento peculiar de quem vai embora. ir embora. ir embora. ir embora. antes de ela chegar.

16.3.07

variantes




a beleza por trás das pontes.
em frente ao morro,
'memórias do subterrâneo'

14.3.07

inclassificáveis..

o próprio ser reconhece quando a seleção natural não o quis e talvez isso seja normal nos dias de hoje, esse sentimento de rejeição, ou isso seja natural entre as pessoas que conheço e as outras que não conheço, mas que seriam eu e meus amigos com tamanha facilidade.

não me admira se um dia eu vir alguns dos meus, amontoados em blocos e com placas reclamando o direito a eutanásia.

se isso é o mal do século, se é a descoberta da psicologia, se é a descoberta do eu, ou a individualização do coletivo não faz diferença.

faria diferença se eu fosse um homem-bomba rezando por Alá que me receberia de braços abertos em seu reino.

acontece que a minha cultura e suas raízes miscigenadas esqueceu-se de si mesma, sem infiltrar-se nos indivíduos para lembrar-lhes aquilo que eles são.

se um individuo tivesse uma cultura por si, reconhecê-lo-ia que não foi escolhido pela seleção natural?

mas isso também não faria diferença.

mas ser um homem-bomba.., huuuum..

13.3.07

y control¹

caos de gente no meu país chamado cérebro.

algumas pessoas que nos maravilham durante algum tempo, passam, e essa brincadeira chamada convivência vem a se tornar séria. não séria ao ponto de nos tornarmos negociadores de almas, mas ao ponto de nos afligirmos por uma situação banal do dia-a-dia.

as pessoas erram, fato, mas a necessidade de desligar-se do passado em função das chances do novo futuro nos tornam efêmeros, com os sentimentos profundamente ligados a futilidade de todo o universo. é necessário passar por fases. é necessário ir embora.

o que fica é a gritante sensação de perder-se em cada pedaço do ser embutido na memória. cada um deixado pra traz é outro que vai junto.

a arte de perder pessoas, a arte de perder-se por aí.




¹yeah yeah yeahs

9.3.07

(..) muitas vezes, as pessoas, mesmo as más, são mais ingênuas, mais simples do que pensamos. nós tambem, aliás (..)

fiodor dostoievski - os irmãos karamazov

4.3.07




muitos amores muitas dores
ela desistiu do mundo só por hoje
amanha ela volta, pediu pra avisar.

2.3.07

versos

e talvez dos mares desbravados que já foram,
dos homens nobres no calor de suas roupas
infiltrando-se no eco insosso do universo,
esqueceu-se de si próprio pelos outros.

1.3.07

a batida abafada no peito, mas sabe-se lá o que significa. quando ela desceu as escadas e viu o que procurava, enganou-se e deu as costas indo à outra direção. sempre essa sensação do querer enganado. talvez a satisfação de ter, lhe faria algo que ela não soubesse ser. o engano surdo, de olhos fechados para si mesmo. mas se me perguntasse 'se eu queria', 'eu queria'.

28.2.07

um engano surdo
como quem quer ser deixado
levando-a pela mão
até a desculpa mais proxima

ao fim, sem hesitar

26.2.07

ela acordou hoje antes do sol, como se existisse ar entre uma extremidade e outra do sono. engoliu os sentimentos absorvidos durante os sonhos complexos que nunca entende, mas não digeriu. talvez nem o lanche da tarde. dormiu a outra extremidade. acordou. as vozes borbulhando na cabeça do sono bêbado e pesado e as vozes externas lhe dizendo o que fazer. o sol entrando pela janela lhe feria os olhos como um mandante autoritário que dizia: veja. não. fechou-se se distraindo em si. os pensamentos da garota que ela não sabe quem é, nem pra onde vai.

25.2.07

sobre a memória.

ela nos deixou hoje. da mesma forma como antes, sem laços. só os traços do seu rosto podem confirmar a existência anterior e só tuas mãos poderão cometer os mesmos erros com um silencio impossivelmente nefasto. deixar o cheiro das vontades que existem por si só se alastrar pela casa e saber que enquanto houver portas e janelas abertas por inteiro, nada vai restar. ir embora com a inconstância que volta e com o desfalecer do que fica. o mistério das coisas percorrendo o teu corpo como gelatina, abstraindo na tua memória a incoerência do que sentes, do que te habita, mas amanha já vai embora.


para o joão.

20.2.07

o quarto sela os gritos surdos
enquanto velo meu corpo enrraivecido.
o sentir empoeirado desfalecendo,
na eternidade das horas.

16.2.07

pseudestesia

o sono obsoleto do dia pediu-me 'seja conveniente'
concordo com a áurea da manha e acordo cedo
uma sinfonia de passos, sincronizada com os motores dos automóveis acompanham-me até o fim do alfabeto
sinais, faróis, semáforos e vírgulas
dois pontos pra ti
uma passarela deixada pra trás junto com o outro lado da folha

11.2.07

tocar com os olhos
e suspirar

à vontade

esvaindo-se discretamente
gota-à-gota

8.2.07

por alguma pulsão incoerente
desfaz-se a febre, fluido do medo.
a espuma, o sal, o azul,
aparecendo
pouco a pouco,
ausentam-se.

ir
sem voltar-
-se fosse.

7.2.07

melhor é não burlar o pensamento, não há o cedo, não há o tarde, só há o momento dentro do tempo que a natureza permitir. a vontade é anti-razão, antes do tarde? depois do cedo? a beleza da hora vem estipulada pela natureza surda, muda e ensurdecedora. tudo quieto nos canais de agora, mas um 'ágætis byrjun' quando este vier.



releio os rascunhos pra lembrar,
afinal, quem sois?

lembro de alguém parecido
impossível é dizer de onde vem.

paro diante delas, reconheço-as,
minhas respostas do outro lado da rua,
não ignoro se riem ou dilaceram-se,
mas esqueço as perguntas
e o vento as desfaz.
as cores verde e vermelha se misturam e por um momento me sinto no natal. desejos na linha tênue da moral e olhos faiscantes que não se importam em tragá-la. um ar sempre resolve questões sobre vontade. um ar forte. miseravelmente forte. cubro a barriga, ponto misterioso e caminho em uma linha imaginaria. perco-me entre os odores e o tato, quase um abismo, minha mão e o seu umbigo, o segundo aponta a direção: pulsões e estravagâncias. sua nuca em um dilúvio, só minha. minto para o tempo 'é cedo'. não deixo existir a hora de ir embora e faço um universo que é só meu. paira no ar um cheiro suicida, verde, nitidamente verde. passo minha vez, mas não entrego seus braços. teu corpo quase uma jaula. me infiltro em cada buraco e aceito a condição. minha língua acaricia a tua em um momento de paz infrequente. torpe, presa na semente da vontade. piedade corpo: agüentai! acordo com o nariz grudado em tuas costas e vôo a esmo, entre a rotina e a ilusão.

6.2.07

os tacos do chão da sala não me dizem nada sobre você, enquanto escuto os gritos das crianças no jardim, pisco, absorvo a luz que bate na janela e me encolho entre as cobertas, súbito, me sufoca tua estadia, sinto minha consciência no pé esquerdo, escondida entre os dedos. abro os olhos com bravura em baixo do mesmo teto de todos os dias, juro para ele estar mal disposta e que amanha farei tudo que não fiz hoje. não me levanto, meu céu jurado me permite continuar quente e encolhida como um feto. não há mais gritos no jardim, o silencio se intercala com vozes que te mandam ir embora, mas você dorme.
avesso, pálido
gravo a feição, as rugas
falam por falar, de mim,
de você, em tons pastéis
um peso sublime

hoje eu não quero carregar
essa sombra dos outros natais,
amenizando as estradas
a caminho do sal

essas praias falam por meus pés
o que eu nunca andei,
nem hei de pisar

os carangueijos, lado a lado,
só extensão,

não
há fim

sol em dobro
na imensidão azul,
corpos grudam na areia,
juntos,
não incomodam mais

a falta do escuro,
não incomoda mais